O Desfralde Guiado pelo Bebê - desfralde gentil com a Higiene Natural Infantil
- Bebê sem Fralda Brasil
- 26 de nov.
- 10 min de leitura
Tudo o que você precisa saber sobre Treinamento Esfincteriano
O bebê como guia e os pais e cuidadores como auxiliares técnicos operacionais, simples assim!

Chegamos a um ponto em que não podemos mais negar: existem muitos estudos que certificam os riscos decorrentes do treinamento esfincteriano precoce, do tardio e do forçado. Também vimos que uma criança é considerada treinada quando não mais precisa de auxílio e que as disfunções do trato urinário ou gastrointestinal perpassam desde a necessidade de reutilizar a fralda à fatores mais graves de ordem física ou emocional.
Também foi possível compreender que desfraldar pode ser estressante e cansativo para os pais e filhos, mas especialmente traumático para a criança. A gama de materiais disponíveis no mundo acadêmico sobre o desfralde denotam seus riscos: traumas, situações negativas e problemas de saúde. Neste sentido, urge a disseminação de outras técnicas que vão de encontro ao desfralde tradicional e apresentam maneiras alternativas de manejo das eliminações das crianças, especialmente àquelas que tem um olhar integrativo ao funcionamento do corpo do bebê desde o nascimento, como é o caso da Higiene Natural.
Há, ainda, muita confusão entre higiene natural e desfralde precoce, mesmo diante de tantos estudos atualizados, entretanto, HN NÃO é desfralde, nem visa o
desfralde, nem se assemelha ao desfralde, mas é uma abordagem de treinamento esfincteriano lenta, gradativa, não coercitiva e gentil, tornando o desfralde uma consequência lógica dessa prática. Seus praticantes e os profissionais de saúde comprometidos com o embasamento científico já sabem disso e o mundo todo precisa saber, ou melhor, lembrar, resgatando esse saber arraigado no DNA e compreendendo como atender as necessidades de eliminação do corpinho, beneficiando-se dos conhecimentos ancestrais de forma positiva e cientificamente comprovada por resultados benéficos e reais.
Para que o desfralde seja guiado pelo bebê, nós, pais e cuidadores, somos agentes imprescindíveis nesse processo pois, como ensina Maria Montessori (apud LILLARD e JESSEN, 2003), não devemos fazer pela criança o que ela é capaz de fazer por conta própria, mas podemos ser os condutores da independência e autonomia dos nossos filhos. Porém, atenção: autonomia não é autorresponsabilidade.
De acordo com Montessori (apud LILLARD e JESSEN, 2003) a criança dá sinais de desfralde e seriam eles: curiosidade sobre o uso do banheiro por familiares, mostrar desconforto ou irritabilidade com a fralda e incômodo quando ela estiver cheia, entre outros. E nós, praticantes e estudiosos da HN, sabemos que esses sinais ocorrem desde o nascimento, pois estamos informados sobre isso. Está aí a importância de novas informações sobre o desfralde.
Para Maria Montessori (LILLARD e JESSEN, 2003) o desfralde é um processo gradual que precisa partir da criança e cabe aos pais e cuidadores somente observar e proporcionar condições para os filhos passarem por esse momento com autonomia, sem treinamento, mas com apoio. E, sem dúvida é isso que a HN proporciona, um desfralde com autonomia, gradativo e guiado pelo bebê. No livro “Montessori desde o início: a criança em casa, do nascimento até os três anos” (tradução livre), as autoras Paula Polk Lillard e Lynn Lillard Jessen (2003) explicam que Montessori sugere que incluir a criança nas tarefas do dia a dia gera melhor aproveitamento das suas capacidades rumo à sua independência.
Contudo, atualmente, qual a resposta dos adultos a essa grande conquista de independência? "Hoje nós colocamos esse bebês dentro de um chiqueirinho com
alguns brinquedos" (LILLARD e JESSEN, 2003), quando o que eles querem é fazer coisas que requeiram seu máximo esforço, "querem conquistar o ambiente em que vivem", enquanto estamos educando para a involução.
Então, como obter a independência de nossas crias?
[...] o primeiro passo para atingir esse objetivo é se tornar consciente das ações de seus pais (cuidadores) no dia a dia. Antes a criança olhava o que seus pais faziam, agora ela quer imitá-los. Nesse momento, os pais precisam entender que a criança tende a aprender o que os pais fazem. Mas de outro modo, a criança precisa entender que não vai conseguir imitar imediatamente, é necessário um período de treino e adaptação primeiro (LILLARD e JESSEN, 2003).
Montessori (apud LILLARD e JESSEN, 2003) também defende que para o desfralde ser bem sucedido é importante que não apenas a familia como os outros cuidadores e escola contribuam para o fluir do processo dedicando-se ao atendimento das necessidades fisiológicas das crianças e dando consistência ao aprendizado esfincteriano, para a autora é preciso considerar a maturidade e interesse da criança bem como a disponibilidade e programação da família e o desfralde assim ocorreria em três etapas, seriam elas:
- Primeira: a criança avisa que eliminou sem consciência nem controle dos esfíncteres, mostrando desconforto pelo ato.
- Segunda: a criança passaria a avisar que está eliminando, o que indicaria o início da consciência corporal, mas ainda sem controle.
- Terceira: a criança passa a avisar que quer fazer xixi ou cocô, fortalecendo a consciência e o controle esfincteriano.
A pediatra e pedagoga Maria Montessori (apud LILLARD e JESSEN, 2003) também explica a necessidade da criança aprender e compreender todos os eventos a serem seguidos para o uso do banheiro, seriam eles: Sentir a vontade de urinar e defecar e segurar para encaminhar-se ao banheiro, abaixar as calças, sentar-se
no vaso, soltar os esfíncteres, esvaziar reto ou bexiga, higienizar-se, vestir-se, dar a descarga e lavar suas mãos (MONTESSORI apud LILLARD e JESSEN, 2003)
A proposta de Montessori é que desaprendamos conceitos antigos para aprendermos os novos conceitos compreendendo que as visões sobre a criança estão desatualizadas com raízes ainda em ideias do século passado que já não abarcam as crianças modernas. Essa postura vem limitando o livre desenvolvimento das crianças e suas capacidades de aprendizado, enquanto deveríamos auxiliá-las no processo de auto-conhecimento sobre o próprio potencial, incentivando-as a serem autônomos em suas ações.
Bem, parece que aí foi feita uma grande confusão e algumas pessoas passaram a acreditar que não devemos interferir de maneira nenhuma nos processos de desenvolvimento da autonomia da crianças e, o que é ainda pior, são muitas pessoas compreendendo que, ao passo que a criança adquirir certa “autonomia” não dependerá mais de seus pais e cuidadores para desenvolver suas tarefas, inclusive essa é a visão de “desfralde tradicional” = se não usar mais fraldas, não
precisa mais de auxílio/observação/atendimento/olhar atento.
Acontece que na vida prática não é bem assim, e nossos filhos, como mini humanos, são indivíduos. Sair das teorias adotando outras práticas é um caminho bonito a ser seguido para lhes (e nos) proporcionar uma nova visão e
percepção de mundo.
É importante conhecermos todas as vertentes, as possibilidades e os riscos, mas também os benefícios de determinadas abordagens, para que sejamos livres em
nossas escolhas e atuações. Afinal, quando estamos diante de informações de qualidade podemos fazer escolhas conscientes, neste ponto, na minha visão como mãe, pesquisadora, escritora, consultora, palestrante e praticante de higiene natural, o desfralde pode ser guiado pelo bebê se seguirmos a seguinte linha: Que me perdoem Montessori (1940), Doleys e Dolce (1982), Brazelton (1961), Foxx e Azrin (1973), Mota (2008), entre outros, que já contribuiram imensamente com as evidências sobre treinamento esfincteriano, mas um desfralde verdadeiramente empático compreende os ensinamentos de Bauer (2001), Rugolotto (et. al., 2008), Dromboski (2017), Thorpe (2014), Tali (et., al., 2009), Duong (et., al., 2012), Xi (et., al., 2019), Vermandel (2008 e et., al., 2020), Li (et., al., 2020), entre outros, que nos dão uma visão mais atualizada e integrativa, amorosa e empática, comprovando a existência e relevância de estudos suficientes que atestem os benefícios da HN.
Por isso, não apenas embaso meus argumentos com os ensinamentos de todos esses importantes autores, como, depois de tantas pesquisas e práticas, me dou o direito de defender a tese do “Desfralde guiado pelo bebê”, explicitando todos os motivos pelos quais entendo que, ao contrário do que muitos autores registram, no meu ponto de vista, “o bebê não precisa dominar o processo todo” do que é conhecido como “treinamento esfincteriano” nem mesmo ao ser completamente “desfraldado”. Explico: Entendo que é possível ir acostumando nossos bebês e crianças com as etapas do uso do sanitário. Não há qualquer necessidade de realizar um “treinamento” com mudanças abruptas de rotina e comportamento. Aos poucos vamos adaptando o banheiro para a criança com banquinhos e deixando os utensílios como sabonete e toalha ao seu alcance, apresentando o penico, permitindo que ela vá ganhando autonomia, ou seja, podemos auxiliar em tudo aquilo que a criança ainda não domina, é o nosso papel enquanto pais e cuidadores e isso não significa dominar os atos dela, mas sim manter a administração, compreendendo que nossa cria não pode gerir totalmente sozinha suas necessidades fisiológicas.
Em outras palavras, se o meu filho não acorda sabendo que é preciso preparar o café da manhã e também não foi ele quem comprou antes os itens que serão utilizados porque sou eu quem administra o atendimento da fome, significa que o mesmo filho não precisa ter a obrigação de saber que é preciso acordar e fazer xixi e escovar os dentes, por exemplo, ainda que desfraldado, não precisa saber exatamente todo o ritual do uso do banheiro sem falhas. Continua sendo eu que devo realizar o atendimento/direcionamento. E percebam que não falo em “lembrete” porque toda vez que lembrarmos ou questionarmos uma criança sobre ter vontade de ir ao banheiro, ela vai dizer: “Não”, então se alguém tem que lembrar, somos nós. Quando o assunto é desfralde, cabe teorizar menos e sentir mais.
Não precisamos ir longe e dominar as teorias para compreender que xixi e cocô são necessidades básicas, primitivas. Se observarmos bem, veremos que o bebê
nasce e imediatamente faz xixi e cocô, muitas vezes antes de mamar. O xixi é feito já dentro do útero, é uma capadidade pré natal! O mecônio é indício de maturidade fetal e, assim, nem percebemos que ao fraldarmos um bebê e criarmos uma obstrução em seus canais de eliminação, estamos a teorizar tanto aquilo que deveria ser natural que acabamos afastando de nós essa engrenagem tão perfeita e óbvia que é o sistema excretório e o sistema digestório humanos.
Com isso, exigimos da criança habilidades que ela não precisa ter para ser atendida em suas necessidades básicas. Ou seja, enquanto meu filho não pode preparar ou administrar o próprio alimento, nem decidir ou ser responsabilizado por seus horários e rotinas de sono, também não posso responsabilizá-lo pelo seu desfralde. Para que o bebê guie o próprio desfralde, ele precisa ser bem instruído nesse processo, ser auxiliado enquanto não é capaz de fazer sozinho. Não tem problema nenhum que nós abaixemos a calça dos nossos filhos e os sentemos no vaso, não vamos atrofiar nenhuma capacidade, como não atrofiaríamos se o sentássemos no cadeirão de alimentação ou do carro e prendêssemos os cintos. Assim como não tem problema auxiliarmos a se vestir, embora possamos incentivar que o façam.
Obviamente, um problema será criado se tentarmos obrigar uma criança a comer ou urinar ou se andarmos quilometros e quilômetros com o bebê aos berros no banco de trás, por exemplo, mas o caminho do meio é perfeitamente possível. Falando nisso, não podemos pensar que sentar uma criança no vaso nos fará obter uma evacuação, assim como sentar no cadeirão não será sinônimo de que ela irá comer, mas é importante pensarmos que se essa criança
estiver na iminência de uma dessas necessidades, como eliminar, por exemplo, e nós a direcionarmos, acompanharmos, acolhermos essa necessidade e nos comportarmos como um porto seguro para que ela relaxe e elimine com tranquilidade, aí sim estaremos no caminho de uma prática sutil e de um desfralde guiado por ela, pouco a pouco, dia após dia, um de cada vez.
Ao contrário do que pensam os críticos, essas situações em que nos colocamos em pró atividade também para as eliminações não geram condicionamento, bom, se geram, então faz parte da vida, pois, no meu ponto de vista, é a própria relação entre pais, cuidadores e crianças: em que o adulto cuidador supre e auxilia nas demandas que a criança precisa e não consegue suprir sozinha. No caso do desfralde, se a criança tem dificuldade de lembrar de ir ao banheiro ou de puxar a descarga ou de lavar as mãos, ou não sabe se limpar direito, nós que devemos estar ali realizando essa tarefa da mesma forma que trocaríamos uma fralda suja, ou prepararíamos o almoço, pois trata-se de puro e simples atendimento.
Se pensarmos na rotina, por si só vários atos e rituais que realizamos durante o dia em nossas casas condicionam a nós e aos nossos filhos a determinada expectativa do que vem pela frente e isso é muito bom para as crianças. Quando despertamos estamos condicionados a tomar café da manhã, próximo do meio dia estamos condicionados a sentir fome e almoçar, é saudável dormir nos mesmos horários e assim sucessivamente. Pensar na HN como um condicionamento não é um ponto, por si só, problemático, pois o que deve ser evitado é um condicionamento no sentido de uma associação negativa.
Portanto, para um desfralde realmente guiado pelo bebê, o direcionamento, o preparo e a disponibilidade devem ser dos pais e cuidadores. Penso ainda que os
profissionais da saúde precisam acompanhar as evoluções teóricas oferecendo um suporte técnico atualizado, com novas vertentes e novas posturas frente o manejo das eliminações dos bebês e crianças. Assim, fechando minha tese, o ponto chave dessa abordagem seria compreendermos que não existe fim para o atendimento por parte dos cuidadores. Mesmo parando de depender das fraldas não paramos de pensar no xixi e no cocô, pois cabe a nós continuarmos com o olhar atento aos sinais e comportamentos sutis dos nossos filhos e das crianças que estão sob os nossos cuidados.
Neste sentido, para melhor compreensão das capacidades de uma criança é preciso levar em consideração o desenvolvimento humano que se dá por uma relação crânio-caudal, da cabeça para os pés e do meio para as laterais. Um dos primeiros sistemas formados no feto é o cérebro primitivo com a medula espinhal, os nervos, artérias e sistema cardíaco. Aí se formam conexões de cunho fundamental e todas as ramificações que levam comandos cerebrais ao corpo todo, a cada órgão inclusive aos de eliminação. Recomendo aprofundamento no assunto para quem se interessa por essa linda máquina que é o corpo humano.
Dito isso, por último e menos importante, conheça os PDFs que irão mudar sua vida:
Não perca tempo, leia o livro resumido agora mesmo no seu celular (ideal para pais, mães, babás, cuidadores e mestres):
Se preferir, leia o livro completo com todo o embasamento científico atualizado (ideal para profissionais da saúde e estudantes)
Ainda, conheça o livro resumido e direcionado para o desfralde do XIXI:
Se preferir, leia o livro completo sobre o xixi com o emabasamento científico atualizado



























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